sábado, 12 de setembro de 2009

Amizade trágica

Aquela história de que os opostos se atraem parece verdadeira. Jacke era extrovertida, brincalhona, não estudava, desorganizada; já eu estava sempre na minha, séria, responsável, organizada, uma “nerd”.
O destino nos uniu na quarta série quando eu tinha dez e ela onze anos. A empatia foi imediata. Éramos inseparáveis, o dia inteiro para cima e para baixo, passeando, conversando, fofocando.
Quando ela ia mal em alguma matéria, eu sentava-me com ela para explicar as coisas. Era difícil dar aula para ela, a todo momento Jacke desconversava, não prestava atenção em nada e lá ia eu repassando tudo pela terceira ou quarta vez.
Já os meus problemas eram com garotos, aí os conselhos vinham dela, como beijar, o que fazer, o que falar, como me vestir, o quanto deveria me mostrar difícil, todas essas coisas.
Crescemos juntas, no mesmo bairro e na mesma escola. Trocávamos confidências, roupas, revistas, livros... TUDO.
Minhas irmãs também eram muito amigas dela, ah, mas a minha amizade com ela... não tenho palavras para explicar. Sempre “best’s”.
Quando ela fez dezoito anos ganhou um carro. Aí sim ninguém nos segurava; íamos em baladas, festas, shoppings, clubes, todo lugar; não parávamos em casa.
Lembro-me claramente daquele dia, um dos piores da minha vida: 26 de agosto de 1990.
Acordei entusiasmada, pois no dia seguinte era meu aniversário. Passei o dia fora com as minhas irmãs, entregando convites, comprando a decoração da festa, encomendamos bolo, preparando tudo.
Lá pelas 20h30min voltamos para casa. Logo que cheguei papai avisou:
— Princesinha, a Jacke ligou.
— Que horas pai?
— Lá pelas 20h15min.
— Ah vou ligar para ela, obrigada.
Tudo aconteceu por um simples empecilho: meu telefone estava sendo usado por meu irmão.
Quando consegui pegar o aparelho, fiquei ligando na casa dela, até que a mãe dela, D. Lúcia, atendeu e me avisou que ela já tinha saído. Falei que ligaria no dia seguinte para falar com ela. Se eu soubesse que não haveria um dia seguinte...
Fui me deitar lá pelas 23h45min com um aperto no peito e pensando muito na Jacke, minha melhor amiga piradinha, atrevida, que não aceitava ser desafiada. Tive um sono bem agitado.
Às 5h da manhã acordei sobressaltada e comecei a chorar, depois de uns sete minutos chorando, a campainha tocou, comecei a tremer, mas mesmo assim fui atender a porta, toda minha família acordou, mas somente eu e minha mãe fomos ver quem era. Ao abrir a porta, me deparei com Fernando, um amigo, Ele estava pálido, perguntei o que houvera e a resposta à minha pergunta foi:
— A Jaqueline faleceu.
Entrei em pânico, comecei a chorar desesperadamente.
Mais tarde fiquei sabendo o que tinha acontecido. Ela se encontrou com alguns amigos depois de sair da balada.
Decidiram tirar um “racha” e Jaqueline bateu seu carro numa árvore e morreu imediatamente com todos que estavam no carro.
Até hoje fico pensando se eu também não deveria estar naquele carro, quinze minutos podem salvar uma vida. Se fosse outro dia, e eu estivesse em casa, teria saído com a Jacke e morrido. Sempre me perguntei:
— Não era aquela a minha hora? Sim, não, como poderei saber?

Um comentário:

  1. Estou horrorizado, vi um filme de terror, porém a vida é assim. Sei também que pode não haver dia seguinte, no entanto, isto não deve ser desculpa para as possíveis falta de responsabilidades que podemos ter desejo de ter. Porque quando queremos realmente fazer alguma coisa errada, e temos esta certeza, devemos sem dúvidas nos lembrarmos das conseqüências, ah, e ter claro que quando escolhemos o errado é porque escolhemos fazer o que não esta certo, portanto, assumir o risco é uma posição nada inteligente. Sem desculpas e sem frescuras.

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